sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Buraco no Espelho

Flagrei-me no espelho.
Olhos nos olhos
E as vagas lembranças fazendo folia,
Misturando-se com sonhos de criança.
Flagrei-me no espelho.
Olhos nos olhos
E um grande desespero,
Misturando-se ao medo que me consumia.
Flagrei-me no espelho.
Olhos nos olhos,
Dizendo verdades que eu não queria,
Juntando-se ao que eu desconhecia.

Quebrou-se o espelho
Que havia aqui dentro
E que não me pertencia.

Flagrei-me andando.
Vagando nas ruas
dos sonhos,
Chutando o asfalto
de ilusão,
Inspirando o ar,
que sempre me faltara.
E tudo que me consumia, consumiu-se.
Misturei-me à brisa
E leve e límpida desapareci de mim.
Perdi-me em pensamentos
Tão reais
Que até a realidade desconfiaria.

A imagem que vi durante a vida,
Não era real.
Vivi o aparente...inexistente.
Quebrei o espelho que me prendia
Ao que poderia ser e não foi...fui
Ao que planejava ser e não fui...foi


Entreguei-me a imagem que agora não vejo
E docemente desconheço.
Entreguei-me a imagem
E reconheço-me
Em sua realidade surpreendente.

(Maria Otávia Sanchez da Cunha)

2 comentários:

Henrique disse...

Oi, Maria Otávia!!!
Sabe o que mais me impressiona em seus textos? A intensidade emocional que você coloca em cada linha.
A gente sente quase a sua respiração, com as suas emoções transpirando através das palavras...
Parabéns!!!
E, quando sai o seu livro com as suas antologias?
Beijos

Anônimo disse...

Como se não bastasse encantar as pessoas, fiquei muito feliz em descobrir como consegue cativar também as palavras. Acostumadas ao banal, parecem rendidas a encontrar nos teus dedos a necessidade de dizer o quanto ainda existe o coração acelerado, o suor na palma da mão, a gagueira Que bom! Achei que o mundo tinha congelado na frieza de quem esqueceu o sabor do abraço apertado, do beijo na nuca, do cafuné sem pressa...