sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Buraco no Espelho

Flagrei-me no espelho.
Olhos nos olhos
E as vagas lembranças fazendo folia,
Misturando-se com sonhos de criança.
Flagrei-me no espelho.
Olhos nos olhos
E um grande desespero,
Misturando-se ao medo que me consumia.
Flagrei-me no espelho.
Olhos nos olhos,
Dizendo verdades que eu não queria,
Juntando-se ao que eu desconhecia.

Quebrou-se o espelho
Que havia aqui dentro
E que não me pertencia.

Flagrei-me andando.
Vagando nas ruas
dos sonhos,
Chutando o asfalto
de ilusão,
Inspirando o ar,
que sempre me faltara.
E tudo que me consumia, consumiu-se.
Misturei-me à brisa
E leve e límpida desapareci de mim.
Perdi-me em pensamentos
Tão reais
Que até a realidade desconfiaria.

A imagem que vi durante a vida,
Não era real.
Vivi o aparente...inexistente.
Quebrei o espelho que me prendia
Ao que poderia ser e não foi...fui
Ao que planejava ser e não fui...foi


Entreguei-me a imagem que agora não vejo
E docemente desconheço.
Entreguei-me a imagem
E reconheço-me
Em sua realidade surpreendente.

(Maria Otávia Sanchez da Cunha)