sábado, 17 de maio de 2008

Última Estação

Quando foi que perdi o que era meu?
Quando aquela doce ilusão se amargou em minha boca?
Quando foi que aquele brilho no meu olhar se apagou?
Ah, aquele brilho no meu olhar!
Sinto por aqueles que me conhecem agora
Que sou apagada.
Também tenho pena daqueles que me conheciam pelo brilho
E o viram se apagar.
O que me apagou?
Quando foi que me perdi?
Perece-me que numa noite fria adormeci
E quando despertei não amanheci.
Nunca mais o Sol brilhou pra mim.
Uma nuvem tomou conta da minha morada
E não importa o que eu faça
Existe sempre o medo que me afasta do que sonhei.
Ah, sonhei ser tantas coisas!
E embora tenha sonhado muito,
Nunca fui nenhuma das coisas.
Fui sempre a vaga idéia de ser alguém.
Quanto ao que planejei,
Nunca tive muito mais sorte do que com aquilo que sonhei.
Fiz tantos planos que eles seriam para mais de uma vida.
Mas nessa que vivo não fui capaz de realizar nenhum.
Ainda desconheço o limite entre a ilusão, o sonho, o plano e a intuição.
Ah, a intuição!
Já intui viver tantas coisas.
Foram tantas intuições que em um dia eu pressentia
Mais que uma cartomante.
E eu que um dia fui criança,
Envelheço a cada dia, uma semana.
Quando foi que esqueci de mim?
Esqueceram-me antes que eu partisse.
A vida seguiu em frente e eu fiquei na estação.
Parada diante do último vagão.
Ninguém me disse adeus,
Mas eu me despedi de uma vida que um dia vivi.

(Maria Otávia Sanchez da Cunha)

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